Acho incrível como existem pessoas que ao invés de pensarem no que vão dizer vão logo abrindo a boca para soltar a primeira asneira que lhes vem na cabeça e deixam para pensar depois - se é que chegam a fazê-lo. Estou bem sossegada, cuidando da minha vida, já que se não o fizer ninguém mais o fará, ou pelo menos não do jeito que eu quero que seja feito. Então estou lá cuidando do que é da minha conta, e lá surge um espantalho para atazanar minha paciência.
Não que eu seja mal-humorada, mas há perguntas que caem muito mal, descem assim de atravessado pelo ouvido da gente e quando a gente vai ver já deu uma resposta mal-criada, exatamente do jeito que a pessoa merecia.
Estou numa fila enorme de banco pra trocar uma porcaria de um cheque e já estou questionando se aquela quantia miserável compensa mesmo todo aquele sacrifício, já cogito a idéia de rasgá-lo, jogar os pedacinhos na lixeira e zarpar dali, mas está quase na minha vez, vamos lá. O caixa que me atende é uma moça bonitinha, um sorrisinho solícito e ensaiado, daqueles que a gente prega na cara no começo do dia e só desgruda à noite e com o tempo vai se habituando a ele e acaba virando nossa segunda cara. Ela olha bem o cheque, analisa e confere e depois lasca:
- Vai levar em dinheiro?
Eu também tenho um sorrisinho simpático para essas ocasiões e respondo com toda a calma que Deus me deu e na maior cara-dura:
- Não, vou levar em clips e borrachinhas.
Ela pede desculpas com um sorriso amarelo, já quase cor de abóbora, dizendo que é a força do hábito. Eu sorrio também, compreensiva, pego minha mixaria e sumo dali.
Com a mixaria vou ao supermercado, disposta a torrá-la todinha em bolacha recheada e 200 gramas de mortadela. Claro, embarco no final de uma outra fila, essa por sorte nem chega aos pés da fila do banco em número de idiotas enfileirados verticalmente. Estou lá curtindo as maravilhas da fila do balcão de frios quando se aproxima um sujeito até bem arrumado, donde se supõe que bem-posto na vida e sério me pergunta:
- A senhora está na fila?
Já perdendo o meu mau-humor respondo à altura:
- Não, estou esperando o ônibus.
Ele se afasta resmungando e eu continuo esperando minha vez. Quando chega, faço ao atendente meu modesto pedido:
- Duzentos gramas de mortadela, por favor.
- Duzentas gramas de mortandela? - me corrige ele.
Digo que não, que "duzentas gramas" ele que coma ele mesmo, quero duzentos gramas de mortadela.
Já saio de lá irritada e quase bato na mocinha do caixa que está conversando com outra e me ignora quando chega a minha vez. Vou colocando as comprinhas no caixa, ela termina o papo com a colega, me olha como se eu tivesse descido de um foguete que acabara de chegar de Marte e pergunta:
- Essa compra é sua?
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