Diga-me aí, caro leitor, o que é que faz uma pessoa no metrô ou no ônibus puxar papo com quem está com um livro aberto ou com um fone de ouvido? É sabido que metrô e ônibus são coisas chatas, a gente fica naquele empurra-empurra, ou sentado sem querer encarar ninguém... Pra facilitar a viagem, quem é prevenido leva um livro, uma revista ou jornal e se esconde por trás dele. Se esconde PARA NÃO SER INCOMODADO.
Quem não está a fim de ler naquele sacolejo todo e quer poupar as vistas tem hoje a opção de detonar o ouvido. Pois boto lá meu fone de ouvido com o som no máximo e estou lá bem tranquila curtindo meu sonzinho, distante da poluição sonora ambiente, não dá nem 5 minutos e o filho de chocadeira que está sentado do meu lado começa a mexer os lábios - e está olhando pra mim!
Fico ali uns segundos tentando fazer leitura labial, sorrio e aceno com a cabeça. Mas qual! Ele (ou ela, mais provável) quer CONVERSAR! E tudo girando em torno da sua pessoa, que pra mim não interessa nem um pouco. Aí eu tiro o fone de ouvido, respondo que "é mesmo", ponho de novo o fone, olho pra fora pra ver se a pessoa se toca. Que nada, está mesmo a fim de me atazanar. Me cutuca o cotovelo fazendo meu sangue fluir todo para as orelhas, que ficam que nem pimentão quando estou com raiva.
Mas a pessoa não me conhece e não sabe o risco que está correndo. E olhe que sou do tipo "fala mas não encosta", ou como se diz lá no interior "fala mas não me rela". Desconhecido falar comigo já é quase uma afronta, me cutucar então já é chamar pra briga. Olho para o personagem de cima a baixo e desvencilho o braço dos dedos grudentos do incômodo companheiro de viagem e faço cara de poucos amigos. Conto até mil e pergunto o-que-foi-que-você-disse em tom nada cordial.
A "pessoa" não se toca e toda animada começa a comentar um monte de coisas que não têm interesse nenhum pra mim, tipo quanto tempo teve que esperar na fila, como esses ônibus andam cheios hoje em dia e baboseiras do gênero "não tenho nada pra falar mas não consigo manter a boca fechada".
Faço "han-han" e soco o fone com força no ouvido, virando-me definitivamente em direção oposta ao meu candidato a interlocutor. Em vez de me concentrar na música, dedico os próximos 5 minutos de meus pensamentos à santa mãezinha do chato, a pobre que não tem quase nada com isso, a não ser não ter dito a ele quando pequeno que é falta de educação incomodar estranhos que visivelmente não querem ser incomodados.
Mas como o desconfiômetro do personagem (quem me dera!) fictício dessa "novela" parece ter vindo com defeito de fábrica, não é que ele puxa de novo meu braço? Ah, desaforo dos desaforos! Eu, irritada, solto o braço num safanão e digo, mal-criada:
- Ô moço, vai procurar sua turma e me deixa em paz.
Mais uns minutos de paz ele diz alguma coisa que não ouço de jeito nenhum e se levanta, toca o sinal e desce. Acompanho sua saída fuzilando suas costas com meu olhar mortal número 4 e quase mostro a língua quando ele olha para trás ao descer.
Suspiro aliviada, ao meu lado senta-se uma senhora gorda. Continuo irritada, rezando mentalmente e recitando um mantra pra me acalmar quando a senhora gorda me cutuca e diz, tão alto que nem preciso tirar o fone de ouvido:
- Nossa, mas como hoje está abafado, não é?
Pronto, lá se vão todas as minhas boas intenções para com o próximo...

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